
Luís Torgal
Diagnosticado aos 40 anos
Sintomas, Diagnóstico e Evolução
- Quais os primeiros sinais que o fizeram pensar que algo diferente se
estava a passar?
Tinha dores no meu braço direito, mais precisamente no punho. Mas como sou arquiteto de profissão, pensava que era derivado às longas horas a trabalhar à frente do computador.
Cheguei a uma altura em que não conseguia escrever o nome todo legível. Os meus últimos apelidos eram uma linha.
Pode descrever, sucintamente, o processo até à obtenção do
diagnóstico? Quanto tempo demorou?
Não me recordo quanto tempo foi, mas foram certamente anos. Não foram meses…
- Como se sentiu quando o médico lhe comunicou o diagnóstico da
Doença de Parkinson?
Mal, bastante mal, até porque o médico que me diagnosticou foi muito bruto. Eu sei que é o dia a dia dos médicos, mas penso que têm de ter cuidado com as mensagens que passam aos pacientes.
- Que explicações médicas lhe foram transmitidas sobre a Doença de
Parkinson?
Apenas esta frase que jamais esquecerei:
‘’(…) Tem 10 anos pela frente e depois arruma as botas…’’
Lembro que já se passaram 16 anos … E ainda cá estou! E a trabalhar!!!
- Houve algum profissional de saúde ou recurso informativo que lhe
tenha sido particularmente útil nessa fase?
Apenas a Net e falaram-me da Young Parkies, mas para mim era uma coisa longe, no Porto…
- Desde que foi diagnosticado, que alterações tem observado nos
sintomas e no seu estado da sua saúde em geral?
Tinha rigidez muscular. E quando os medicamentos não funcionavam, parecia que tinha os pés aparafusados ao pavimento…
- As consultas médicas de acompanhamento em neurologia têm-lhe
dado as respostas e orientações necessárias?
Agora sim. Sou acompanhado há muito tempo em Torres Vedras pelo Prof. Joaquim Ferreira, que tem tido uma paciência enorme em me aturar e, mais recentemente, juntou-se o Prof. Alexandre Mendes do Hospital de Santo António onde fiz no ano passado uma DBS.
Assimilação, Reação e Reorganização
-Como foi o seu processo de assimilação e aceitação do
diagnóstico?
Difícil. Tive um apoio extraordinário da minha mulher que me ajudou e ajuda. Muito mesmo!
- Quanto tempo demorou até partilhar o diagnóstico com os seus
familiares mais próximos? Como se sentiu depois de o fazer?
Anos (não sei quantos) até contar aos meus pais e filhos. E só falei aos meus amigos passados uns dez anos.
- Em consequência do diagnóstico, que medicação está a fazer
atualmente?
Atualmente só tomo o madopar ¼ comprimido cada 4 horas. à noite o Rivotril, e de manhã o Escitalopran para defender a minha saúde mental.
- Atualmente, pratica algum tipo de exercício físico especial ou
adaptado?
Faço todos os dias exercício, mas não adaptado. Natação, hidroginástica, padel, bicicleta, boxe, trampolins, etc.
- Desde que teve conhecimento do diagnóstico, quais as principais
mudanças que introduziu na sua vida?
Sinceramente nenhumas. Fazia a mesma vida que fazia antes de ter o diagnostico. A única diferença é que apesar de tentar, não o conseguia fazer…
- Fez alterações nas suas rotinas ou nos seus planos familiares e
profissionais?
Não, nada planeado, apenas já não conseguia fazer o que queria. Era frustrante.
Por sua iniciativa e com vista a uma melhor qualidade de vida,
passou a lidar de forma diferente com situações de stress? Alterou as suas rotinas com os familiares? E com os amigos?
Pensava primeiro antes de aparecer e tentava evitar situações de stress. O que na minha profissão é impossível.
Que projetos ambiciona concretizar nos próximos anos?
Já não faço planos a longo prazo. A grande diferença para agora é que tento viver mais o presente…
Integração: de Parkie para Parkie
O que diria a alguém que acabou de receber o diagnóstico?
Que não é o fim do mundo. Há muito mais vida para além do Parkinson.
- Se, na sua área de residência, existisse um Centro onde pudesse conversar, receber orientação psicológica, praticar exercício físico especialmente direcionado para pessoas com Parkinson Precoce, assistir a sessões de esclarecimento, etc., consideraria isso uma mais valia? Teria interesse em participar?
Sim, claro que sim!
- Gostaria de partilhar algum lema ou frase inspiradora que o tenham ajudado nesta sua nova fase da vida? Alguma experiência marcante que tenha contribuído para a sua força e resiliência?
Não me sinto diferente das outras pessoas. Nem com mais coragem.
Essa força acaba por nascer cá dentro para responder às dificuldades que nos aparecem.
- Gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
A minha reação não foi a melhor, devido à falta de sensibilidade do médico (não digo o nome de propósito) ao dar-me o diagnóstico. Os medicamentos ajudam imenso, mesmo. E quando estes já não fazem o efeito desejado (como foi comigo) ainda existe a operação e daqui para a frente haverá ainda muita coisa a aparecer.
Volto a dizer que tenho 56 anos, foi-me diagnosticado aos 40, no ano passado fiz uma DBS, e atualmente faço uma vida absolutamente normal.